Os culpados pela pobreza

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Você sabe por que o Brasil não consegue solucionar o problema da miséria? Porque, de um lado, deixamos de agir sobre os fatores que lhe dão causa, e, de outro, constrangemos e coibimos a geração de riqueza sem a qual não há como resolvê-la. As frequentes mobilizações contra o agronegócio são apenas isso – as mais novas expressões de um fenômeno tão antigo e renitente quanto descabido. O pior de tudo é que minha experiência de quase oitenta anos me adverte: são pequenas as possibilidades de emergirmos dessa histórica tragédia que afronta toda consciência bem formada.

Creem os profetas de tribuna, púlpito e palanque, escrutinando os fatos com as lentes do marxismo, que os pobres no Brasil têm pai e mãe conhecidos: a natural perversidade dos ricos e a ganância essencial dos empresários. Em outras palavras, a pobreza nacional seria causada justamente por aqueles que criam riqueza e postos de trabalho em atividades desenvolvidas sob as regras do mercado.

Estranho, muito estranho. Eu sempre pensei que as causas da pobreza fossem essencialmente culturais, políticas e jurídicas, determinadas por um modelo institucional cheio de equívocos, em especial na função Governo, que nos coloca no lugar 51 entre 167 países classificados pelo World Economic Forum.  Pelo jeito, enganava-me de novo quando incluía entre as causas da pobreza uma Educação que prepara semianalfabetos e nos coloca, entre 80 países do PISA, nos lugares 65, 62 e 52, respectivamente, em matemática, ciências e leitura. Sempre pensei que havia relação entre pobreza e atraso tecnológico e que nosso país não iria longe enquanto ocupasse o 54º lugar nesse ranking. Na minha santa ignorância, acreditava que a pobreza que vemos fosse causada, também, por décadas de desequilíbrio fiscal, gastos públicos descontrolados e tomados pela própria máquina, inflação e elevado crescimento demográfico, notadamente na segunda metade do século passado. Cheguei a atribuir responsabilidades pela existência de tantos miseráveis à concentração de 40% do PIB nas perdulárias mãos do setor público (veja só as tolices que me ocorrem!). E acrescento aqui, se não entre parêntesis, ao menos à boca pequena, que via grandes culpas, também, nessas prestidigitações que colocam nosso país em 94º lugar entre 180 países no ranking da percepção da corrupção elaborado pela Transparência Internacional.

Contemplando, com a minha incorrigível cegueira, os miseráveis aglomerados humanos deslizantes nas encostas dos morros, imputava tais tragédias à negligência política. Não via como obrigatório o abandono sanitário e habitacional dos ambientes urbanos mais pobres. Aliás, ocupamos a 87ª posição no ranking mundial do acesso a saneamento básico (UNICEF/OMS). Pelo viés oposto, quando vou a Brasília, vejo, nos palácios ali construídos com dinheiro do orçamento da União, luxos e esplendores de desfile de escola de samba. Entre eles o do TSE, com seus 115 mil metros quadrados de puro requinte.

Mas os profetas de megafone juram que estou errado. A culpa pela pobreza, garantem, tampouco é do patrimonialismo, do populismo, dos corporativismos, do culto ao estatismo, dos múltiplos desestímulos ao emprego formal. Isso para não falar no “capitalismo” dos “companheiros”. Não é sequer de um país que esbanja em futilidades e luxos para a elite dos poderes de Estado apesar de o ranking da desigualdade (PNUD 2022) colocar entre os 15 mais desiguais do mundo,

A nós, dizem que os culpados pela pobreza são os geradores de riqueza, os que produzem, que agregam valor com seu trabalho, investem e correm riscos em seus negócios. E nada disso se resolve com cartilha nem com simples partilha, como crê a CNBB.

Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

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